O JORNAL DE HOJE |Carolina Souza
Os produtos que estão saindo mais caros do campo, devido à seca, e transportados até a cidade por um preço ainda maior, por causa da alta dos preços nos combustíveis, não poderiam gerar um resultado diferente: o consumidor pagando mais caro. Nos supermercados, as prateleiras registram o aumento significativo no valor dos produtos e as pessoas se assustam diante da ‘impotência’ do poder de compra.
Dono de supermercado em Natal, Geraldo Paiva conta que o aumento dos preços dos produtos do campo e industrializados vem sido observado desde o começo do ano. Dependendo do produto, a variação chegou a ser de 6% a 15%. Para Geraldo, a alta dos preços deve impulsionar a inflação, perspectiva nada animadora para o segmento alimentício, que vem com baixa no crescimento das vendas desde o ano passado.
“Crescíamos cerca de 6% a 8% ao ano. Em 2014 nós ficamos abaixo de 2%. Pelo o que estamos vendo dos meses de janeiro e fevereiro deste ano, a população têm diminuído ainda mais o ticket de compra, o que nos leva a crer que neste ano teremos perspectiva zero de crescimento”, comentou o empresário.
Os preços da carne e do frango foram os que sofreram os maiores aumentos. Derivados de trigo, perfumaria, higiene pessoal e limpeza também estão com valores em alta. Para não perder o cliente, Geraldo conta que a recomendação da Assurn (Associação dos Supermercados do Rio Grande do Norte) é de que os estabelecimentos pressionem a indústria e negociem melhores preços com os distribuidores.
“Se os preços aumentam para nós, que somos revendedores, obviamente aumentará para o consumidor. Isso é inegável. O que podemos fazer por nossos clientes – e fazemos sempre que possível – é brigar pela concorrência. No momento em que eu começo a vender um produto de uma marca similar, porém mais barata ao que costumava vender, estou provocando a concorrência entre os distribuidores. É isso que podemos fazer para evitar que o consumidor deixe de comprar aquele produto que é essencial para ele”, afirmou Geraldo Paiva.
Além do aumento dos preços dos alimentos, o consumidor ainda tem que adequar o orçamento mensal para as novas tarifas que serão pagas com o consumo de energia e de água. Lígia de Oliveira, 28, que trabalha como diarista, disse que precisará diminuir os gastos com um serviço, para poder compensar com outros.
“A feira do mês é uma coisa que não tenho como mudar. Os alimentos básicos, como carne, frutas, verduras e higiene pessoal, por exemplo, não posso deixar de comprar. Mas terei que cortar algumas coisas. Para se ter ideia, no ano passado eu paga cerca de R$ 450 reais na feira do mês. Neste ano a conta subiu mais de R$ 100. Com o salário que eu ganho, esse acréscimo faz muita diferença”, comentou Lígia.
Enquanto conversava com a reportagem d’O JORNAL DE HOJE, o filho de Lígia, de sete anos, pedia para ela acrescentar chocolate na feira. “É nesse momento que eu finjo não estar escutando ele”, brincou. “Gostaria de comprar tudo o que ele gosta, mas tenho um limite que não poso ultrapassar”.
O funcionário público Edilson Batista, 42, também informou que precisará diminuir os gastos. “Tudo aumentou. Todas as seções dos supermercados estão mais caras. No ano passado eu gastava uma média de R$ 500 em uma feira. Hoje a conta chega a quase R$ 800. Essa diferença precisa sair de algum canto. Ainda não sei qual será, mas precisarei analisar bem as contas”, disse.